sábado, 5 de setembro de 2009

O Outro Lado da Lagoa Olho D'água

Em tom de tristeza, seu Elsion desabafava: "Já não são tantas garças como antigamente" , enquanto andávamos pelas ruas esburacadas de Lagoa das Garças, comunidade localizada a oeste da lagoa, nas proximidades da BR 101 sul, em Jaboatão. Apesar do cenário de carência e abandono, os moradores não economizaram simpatia durante a visita do blog a comunidade. Lagoa das Graças é o típico local onde os políticos se aproveitam da bondade e ingenuidade do povo com promessas que nunca são cumpridas.



Conheci seu Elsion Alves, caminhoneiro aposentado, no IFórum de Revitalização da Lagoa Olho D'água, no final do mês passado. Trocamos telefone, marcamos uma data e seu Elsion fez questão de me mostrar o outro lado da lagoa, nunca antes mostrado aqui no blog por símples falta de oportunidade.

Nossa visita começou na entrada da comunidade, nas margens da BR 101 sul. Logo na entrada, os problemas já eram visíveis. Ruas esburacadas, cheias de lama e de lixo contrastavam com o sorriso das crianças que inocentemente faziam questão de serem fotografadas. No meio de tanto abandono era compreensível que elas necessitassem de atenção. Nunca imaginei que elas ficariam tão felizes em serem fotografadas...



Encontramos seu Elsion e seguimos de carro em direção a la
goa. Numa estreita rua resolvemos parar e lá estava a Lagoa Olho D'Água! Finalmente vista do oeste! Frágil e imponente, grandiosa e tão pequena na visão dos governantes.




Crianças brincavam satisfeitas na rua eslamaçada. O esgoto corria ao lado delas, seguindo fétido e contaminado até o espelho d'água escuro, onde pescadores se arriscava em busca da tilápia, único peixe existente nas águas poluídas da Lagoa Olho D'água. Conversamos com alguns deles, que disseram que antigamente a pesca era mais fácil. Reclamaram que muitos pescadores e moradores estão contaminados por esquistossomose, ameba e filariose. Quando perguntei porque eles se arriscam tanto, recebi como resposta "É a única alternativa que temos para sobreviver".


Seguimos adiante com dificuldade pelas ruas cheias de buracos. Flagramos um caminhão de coleta da prefeitura de Jaboatão carregado de lixo: "Eles fazem a coleta de vez em quando, mas não é suficiente como você está vendo" - disparou seu Elsion. E realmente não era. Em Lagoa das Garças o que não falta é gente simpática e lixo nas ruas. Em cada esquina lixo e mais lixo, buracos e mais buracos, esgoto e mais esgoto, sorrisos e mais sorrisos...



Passamos em frente ao posto de saúde da comunidade que, segundo os moradores, não tem nenhuma estrutura: "Faltam médicos e medicamentos. Aí dentro está tudo cheio de mato!" - reclamavam. "Os políticos só nos procuram na época das eleições. Depois eles esquecem que existimos" - reclamava seu Severino enquanto fotografávamos a buraqueira.


No final da tarde retornamos pela rua principal. Passamos pelo terminal de ônibus alternativo, único meio de trasnporte dos mais de 5.000 habitantes de Lagoa das Garças. A população voltava do trabalho para as suas casas. Em Lagoa das Graças quase ninguém acredita que um dia a revitalização da lagoa vá sair do papel. Mesmo assim percebi um pouco de esperança estampado em olhares desconfiados. Me despedir de seu Elsion e fui embora encantado com a energia positiva daquele povo, que mesmo com tantas dificuldades não hesita um sorriso.




Agracedimentos: Elsion Alves, William Bonnet, Marinete Duarte

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